quinta-feira, 29 de novembro de 2007

A TRISTE PARTIDA


Com a aproximação de dezembro, o futebol brasileiro experimenta uma trégua, que vai até a primeira semana de janeiro do próximo ano, quando os campeonatos estaduais têm início e tudo volta ao que era antes. Sim, porque em se tratando de futebol, o novo nunca vem. Tem sido assim, pelo menos, nos últimos dez ou quinze anos.
Falo do futebol nacional e mais especificamente do futebol cearense. No início deste ano, como vem acontecendo sempre, os dirigentes anunciam que as coisas irão mudar da “água para o vinho” e o torcedor poderá esperar, para os clubes de futebol, um elenco digno das tradições dos nossos grandes clubes.
Com o início da temporada, vem a constatação de que as palavras são como a fumaça. Anunciam o fogo, mas o vento acaba por levar, e no final, se dissipa, não deixando nem o cheiro. Os dois grandes clubes da capital, Ceará e Fortaleza, vieram de uma medíocre campanha em 2006, quando um esteve o tempo todo por cair para a Terceira Divisão e o outro desabou na Segunda Divisão, sem pena, nem piedade.
Seria no mínimo sensato que os nossos dirigentes, já prevendo uma certa reticência por parte do torcedor em 2007, buscassem formar equipes ao menos competitivas e com plantéis com atletas de mediano para bom.
Mas nada disso aconteceu. Ao contrário, o Campeonato Cearense teve início e serviu de “bucha de canhão” para uns atletas e de “proveta” para outros. As equipes deram início ao Brasileiro da Série B tendo que reformular quase que por completo seus elencos e ao longo de todo o Campeonato Nacional, contratações se processaram sem um mínimo de critério, a não ser o financeiro.
Até que os treinadores não se omitiram. O do Ceará, por exemplo, Heriberto da Cunha, já cansado de não ser ouvido pela Diretoria do Alvinegro, resolveu abrir o “verbo” e afirmou para quem quisesse ouvir que ao Ceará faltava comando. Não satisfeito e vendo que suas declarações não haviam surtido o efeito desejado, já que as contratações não vieram, mais uma vez veio a público dizer que “um verme” havia se instalado em Porangabussu e era o causador do atraso secular do clube.
O campeonato seguia sem muita perspectiva para o Ceará, que embora não tenha figurado nenhuma vez na temível zona do rebaixamento, jamais chegou a realizar uma seqüência de jogos convincentes na competição. Resultado: o torcedor que já não vinha caminhando de braços dados com o time resolveu virar-lhe as costas e o que se viu foram partidas com uma melancólica presença de público, algo incompatível com as tradições e glórias do Ceará Sporting Club.
O Fortaleza, embora tenha levantado o caneco no Campeonato Estadual, foi outro que não soube planejar corretamente para a duas competições nacionais que disputou em 2007. Na Copa do Brasil, não teve vida longa, o que já está se tornando uma constante nos últimos anos. Já no Brasileiro da Série B, teve um início até que satisfatório, porém, experimentou uma queda de produção e chegou a estar entre os quatro clubes que cairiam para a Série C. Foi mais ousado e realizou contratações na reta final da competição, o que o livrou, não somente do rebaixamento, mas da fúria de sua torcida, que não engoliria outro rebaixamento consecutivo, sem falar na confortável posição que alcançou com o término da competição, num 5º lugar digno de registro, pela extraordinária superação.
Ferroviário e Icasa, nossos dois representantes na Série C, até que tentaram fazer alguma coisa de bom, mas infelizmente só têm conseguido atrapalhar as pretensões dos nossos grandes em competições estaduais. Sobretudo o Icasa, que chegou ao vice-campeonato deste ano e, com um elenco até razoável, tinha a simpatia e esperança de toda a região do Cariri de fazer bonito numa competição promovida pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
Em relação à arbitragem tivemos boas atuações no campeonato cearense e uma gritante exclusão em competições nacionais como Copa do Brasil e Séries A, B e C. Pelo nível da arbitragem nacional, pelo menos na observação dos árbitros que atuaram nos jogos dos clubes cearenses, os daqui não ficam atrás de nenhum deles. Pelo contrário, tivemos péssimas arbitragens de baianos, pernambucanos, cariocas, enfim, o nível da arbitragem nacional anda capengando e necessita, com urgência, de uma reciclagem, para não usar outro termo mais forte.
Agora, com as férias dos atletas, é tempo de se pensar em 2008 e buscar no profissionalismo e na seriedade, alternativas viáveis, para o nosso futebol. Sempre houve o entrave do fator financeiro que pesa de maneira direta para a elaboração de um planejamento eficaz. Porém, muitas alternativas podem ser estudadas e viabilizadas. Um convênio com o Governo do Estado, através da Fazenda Estadual, com ingressos subsidiados através de troca por nota-fiscal, o sorteio de prêmios aos torcedores que comparecerem aos jogos ou prêmios proporcionais àqueles que apresentarem os canhotos dos jogos do seu time, ao final do campeonato. Uma casa ou um carro popular, quem sabe?
Com as prefeituras dos municípios com clubes participantes em competições estaduais poderiam ser celebrados acordos para estimular o aumento das receitas com IPTU, ISS e IPVA, através da troca de ingressos ou adoção de preços diferenciados. Empresas da iniciativa privada podem ser estimuladas a realizar promoções em troca de incentivos fiscais. Mulheres, estudantes e crianças deveriam ter um tratamento diferenciado, inclusive com entradas específicas nos estádios. E o grande vilão da história: o transporte coletivo. Buscar uma solução para que o torcedor não fique à míngua, vagando pelo entorno do Castelão ou Presidente Vargas, sem condições de voltar para casa, após uma partida de futebol, sobretudo os clássicos.
Buscar alternativas sensatas e que venham efetivamente contribuir com o futebol cearense sem qualquer tipo de demagogia ou propósito eleitoreiro, para que a melhor mercadoria do nosso futebol não fique desestimulada e abandone de vez as nossas praças esportivas. E quando 2008 chegar ao seu final, todos juntos não tenhamos que entoar: “Setembro passou, com outubro e novembro, já tamo (sic) em dezembro. Meu Deus que é de nós?

Nenhum comentário: